sexta-feira, 12 de junho de 2009

Mais uma vez, razão e emoção


As questões que envolvem o estudo da cognição ultrapassam as fronteiras dos interesses estritamente lingüísticos. Em 1995, nos Estados Unidos, o neurocientista Antônio Damásio – chefe do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Iowa e professor adjunto no Instituto Salk de Estudos Biológicos, em La Jolla – publica "O erro de Descartes". No Brasil, a 1ª edição é de 1998. Nesse livro, o autor afirma que inteligência e racionalidade decorrem da sensibilidade, jamais o contrário. “O erro de Descartes foi separar o corpo da mente, a emoção da razão. Foi sugerir que a mente teria uma substância diferente da do tecido biológico”, assegura Damásio. Suas conclusões são baseadas no estudo de diversos pacientes com lesões cerebrais. Sua certeza de que decisões sensatas são provenientes de uma cabeça fria e de que emoções e razão não se misturam, começou a ser abalada ao se defrontar, durante a década de 70, com um paciente que tivera uma mente saudável até ser afetado por uma doença neurológica que danificou parte de seu cérebro. Rapidamente o doente começou a apresentar uma total incapacidade de tomar decisões. Ele possuía o conhecimento, a atenção e a memória indispensáveis para exercer sua racionalidade. A sua linguagem era impecável; conseguia realizar cálculos e lidar com a lógica de um problema abstrato. Apenas um outro defeito se aliava à sua incapacidade de tomar decisões: não conseguia sentir emoções. Conforme as palavras de Damásio, “era o ser mais frio e menos emotivo que se poderia imaginar”. Durante duas décadas, o neurocientista, trabalhando com muitos doentes neurológicos, procurou ratificar a hipótese de que emoção e razão estariam visceralmente interligadas. Desse trabalho, chegou a duas conclusões: 1) o cérebro humano e o resto do corpo constituem um organismo indissolúvel; 2) os sentimentos constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito há milênios como alma ou espírito. Ou seja, a emoção está na essência da capacidade intelectual de pensar.

2 comentários:

Ricardo Yamashita disse...

Cada vez mais se torna evidente que o homem é uma máquina coracional, movida pela emoção. Somos razão pois pensamos na ética moral e no princípio conceitual de sociedade, e somos sensação porque somos humanos. Em outras palavras, somos seres pluralizados em um.

Paulo Henrique Duque disse...

A matéria de capa da Revista Superinteressante "A Farsa das Dietas" (Maio) mostra a o processo de reprogramação metabólica do corpo, que "entende" a dieta como uma ameaça e, por isso, arma uma verdadeira estratégia de guerra. A reportagem revela também que há relação entre esse processo, a emoção e entorno socio-cultural.

Quem estiver interessado em ler o artigo, eis o link:
http://www.methodus.com.br/_ambiente_aula/methodus/artigos/detalhes.asp?ID=338