sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O reencontro entre a Linguística e a Antropologia


Nas Ciências Humanas, muitas são as correntes de pensamento, em diferentes momentos da história, que reivindicam o direito ao uso do termo cognição. Na segunda metade do século XX, a Lingüística viu renascer antigas questões que, de uma maneira ou de outra, procuram estabelecer uma relação entre a estrutura, o uso e o funcionamento da linguagem e o que, de maneira geral, poderíamos chamar de “áreas cognitivas”.
Apenas para exemplificar, poderíamos apontar, com relativa precisão, duas grandes vertentes cujas características apresentamos abaixo:

I) Amparados no pressuposto de que as línguas naturais são adquiridas e faladas “espontaneamente” apenas pelos membros da espécie humana, alguns estudos vão concluir que as propriedades essenciais da linguagem são determinadas pelo tipo específico de estrutura e organização mental dessa espécie. Assim, as propriedades da linguagem estariam diretamente relacionadas às propriedades mentais dos seres que as falam, de tal modo que estudar a linguagem humana seria, essencialmente, estudar determinadas características da mente humana, radicadas em última instância na organização biológica da espécie. Essa perspectiva sobre a linguagem, que recebe, entre outros rótulos, o nome de “naturalista” ou “mentalista”, está presente na Gramática Especulativa dos escolásticos do período medieval, na tradição da Gramática de Port-Royal dos séculos XVII e, a partir da década de 50 do século passado, no modelo de gramática proposto por Noam Chomsky: a Gramática Gerativa.

II) A segunda vertente vai propor que os modelos simbólicos que caracterizam a língua determinam um emparelhamento entre informação lingüística e modelos cognitivos. Isso porque as estruturas utilizadas para articular os sistemas conceptuais se desenvolveriam a partir da experiência. Ou seja, a fundação dos sistemas conceptuais estaria atrelada à percepção física, aos esquemas de movimento corporal, de tal maneira que as características globais da “corporeidade” e da “experiência” definiriam, em grande parte, as características da mente e da gramática. Esse modelo, conhecido como Realismo Experiencialista, é liderado por George Lakoff, Mark Johnson e Eve Sweetser.


O momento posterior ao Realismo Experiencialista é marcado pela consideração do papel de fatores socioculturais na organização, estruturação e funcionamento dos sistemas conceptuais. Desse modo, abre-se um caminho que nos possibilita o diálogo entre as questões construídas pela epistemologia da corporeidade e aquelas provenientes de uma abordagem que poderíamos chamar de Antropologia cognitivo-cultural. Esse diálogo nos permite compreender, por exemplo, que os processos de categorização, que nos possibilitam organizar discursivamente nossa experiência, constituem convenções e adaptações a uma realidade cultural e social. As atividades de construção de sentido, portanto, seriam mediadas pelas redes de conhecimento que se transformam em modelos mentais que são, simultaneamente, modelos culturais dos falantes.