segunda-feira, 22 de junho de 2009

Além do cérebro


O mecanismo de cognição diz respeito à capacidade de o ser humano adquirir conhecimento, ou seja, à forma como o cérebro adquire, processa, interpreta, assimila, memoriza e projeta a informação captada pelos cinco sentidos.
O processo de cognição envolve três etapas, que integradas nos tornam capazes de aprender a respeito de tudo o que acontece ao nosso redor. São elas: captação, análise e memória. Captamos as coisas por meio dos cinco sentidos; analisamos a informação captada, por meio de analogias com os padrões já memorizados (aprendizado). Depois disso, vem o armazenamento na memória.
É por meio da cognição que nos adaptamos às mudanças. A partir da aquisição de informações do meio em que vivemos, é possível nossa adaptação e, consequentemente, a auto-proteção. Nesse sentido, a finalidade da cognição é mais do que aprender. Deve ser considerada como um mecanismo essencial para a nossa sobrevivência. É através da maneira como percebemos o mundo que se determinam as possibilidades de bem-estar (ou não) em relação aos diversos aspectos da vida.
No entanto, apesar de a cognição ser uma atividade cerebral, ela não deve ser confundida com o cérebro (estrutura física). O alcance dos processos cognitivos ultrapassa os limites do cérebro e se estende para todas as demais partes do corpo humano. O vídeo seguinte mostra como o processo cognitivo se reflete no sistema imunológico:

o sistema imunológico

Há captação dos elementos estranhos ao organismo; assimilação do corpo estranho e criação de mecanismos de ataque e, por fim, a memorização da estratégia de combate ao corpo estranho. Isso tudo, numa adaptação constante.

sábado, 20 de junho de 2009

Linguagem, Cultura, Cognição: os processos cognoscitivos como um espaço interacional de possibilidades múltiplas


A linguagem é um elemento que não pode ser ignorado quando nos propomos a pensar os mais diversos aspectos da realidade e isso se dá devido a nossa condição de seres dependentes da cultura e, portanto, simbólicos. Uma vez que a existência humana somente se efetiva na cultura – isto é, a partir do trabalho social e intersubjetivo da vida em grupo e de sua rede de instituições e simbolismos consequentes –, resulta que nossas estruturas de conhecimento, que guiam nossas percepções, são, em grande medida, reguladas por uma contínua interação entre práticas culturais, esquemas cognitivos e linguagem. Assim, as ideias que construímos da realidade não são por nós produzidas “livremente”, conforme uma vontade independente, pessoal e racional, mas sob a influência de uma práxis intersubjetiva que fabrica estereótipos culturais que, por sua vez, são garantidos e reforçados através da atividade discursiva. Não há discurso no vazio. Os sistemas de representação construídos discursivamente regulam as estruturas mentais e perceptivas dos sujeitos e, ao mesmo tempo, são regulados por elas, organizando espaços sociais e articulando significados coletivos. Por tudo isso, entendemos que o fenômeno linguístico é absolutamente imbricado com o contexto sociocultural em que ocorre e, simultaneamente, que o contexto em que uma ação discursiva se realiza não é independente da memória conversacional dos sujeitos, das estruturas conceptuais disponibilizadas no presente, constituídas, inclusive, por suas emoções.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Mais uma vez, razão e emoção


As questões que envolvem o estudo da cognição ultrapassam as fronteiras dos interesses estritamente lingüísticos. Em 1995, nos Estados Unidos, o neurocientista Antônio Damásio – chefe do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Iowa e professor adjunto no Instituto Salk de Estudos Biológicos, em La Jolla – publica "O erro de Descartes". No Brasil, a 1ª edição é de 1998. Nesse livro, o autor afirma que inteligência e racionalidade decorrem da sensibilidade, jamais o contrário. “O erro de Descartes foi separar o corpo da mente, a emoção da razão. Foi sugerir que a mente teria uma substância diferente da do tecido biológico”, assegura Damásio. Suas conclusões são baseadas no estudo de diversos pacientes com lesões cerebrais. Sua certeza de que decisões sensatas são provenientes de uma cabeça fria e de que emoções e razão não se misturam, começou a ser abalada ao se defrontar, durante a década de 70, com um paciente que tivera uma mente saudável até ser afetado por uma doença neurológica que danificou parte de seu cérebro. Rapidamente o doente começou a apresentar uma total incapacidade de tomar decisões. Ele possuía o conhecimento, a atenção e a memória indispensáveis para exercer sua racionalidade. A sua linguagem era impecável; conseguia realizar cálculos e lidar com a lógica de um problema abstrato. Apenas um outro defeito se aliava à sua incapacidade de tomar decisões: não conseguia sentir emoções. Conforme as palavras de Damásio, “era o ser mais frio e menos emotivo que se poderia imaginar”. Durante duas décadas, o neurocientista, trabalhando com muitos doentes neurológicos, procurou ratificar a hipótese de que emoção e razão estariam visceralmente interligadas. Desse trabalho, chegou a duas conclusões: 1) o cérebro humano e o resto do corpo constituem um organismo indissolúvel; 2) os sentimentos constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito há milênios como alma ou espírito. Ou seja, a emoção está na essência da capacidade intelectual de pensar.

sábado, 6 de junho de 2009

C&PD no Orkut

Oi gente, agora temos nossa comunidade no Orkut... não disse que seríamos multimodais? pois é! Não deixe de entrar para a comunidade Cognição & Práticas Discursivas, onde apresentaremos uma agenda de leituras e comentários. Além, é claro, de fóruns e enquetes. Para ter acesso, basta clicar no título acima.

Esperamos por você!

C&PD na Semana de Humanidades da UFRN


O GT Cognição & Práticas Discursivas contou com a apresentação de 17 trabalhos. Apesar da diversidade de temas e, até mesmo, de abordagens teóricas, todas as comunicações deixaram explícito o caráter multidisciplinar das investigações: ciências sociais e cognitivas, linguística, antropologia,ciências da literatura, ciências da computação, LIBRAS, ciências da educação se integraram para a compreensão dos fenômenos sob análise.

O evento, que durou dois dias (5 e 6), marca também o início das operações do C&PD, cuja agenda contempla também: encontros, pesquisas, oficinas, congressos e publicações. De acordo com o Prof. Marcos Costa, coordenador do C&PD, o grupo busca congregar pesquisadores de diversas áreas e vertentes, mas que reconheçam a interface entre cognição, linguagem e sociedade nas suas investigações.

No fechamento, os professores coordenadores do GT elogiaram o nível dos trabalhos e, principalmente, a maturidade dos estudantes no desenvolvimento de suas propostas, coerentes com o perfil do C&PD.

Em outras postagens, voltaremos a tratar do GT: C&PD.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Transdisciplinaridade


Adotamos uma perspectiva transdisciplinar, atentos aos aspectos qualitativos e/ou quantitativos relacionados aos processos de construção e organização de sistemas conceptuais, assim como às questões da variação, relacionada às representações socioculturais. Interessa-nos detectar a correlação entre frequência de uso, modelos cognitivos e padrões socioculturais. A análise, portanto, pretende-se sistemática e multifocal, buscando a confluência de fatores conceituais, discursivos e variacionais dos fenômenos lingüísticos.

Corpora


Interessam-nos, sobretudo, os corpora que nos permitam praticar um tipo de arqueologia que nos indique, mesmo que em caráter provisório, como os discursos criam, transformam e recriam o mundo constantemente. O texto jornalístico, científico, didático, assim como o quadrinho, a literatura, a charge, dentre outros, que igualmente nos contam um tempo e nos sugerem as ações e a forma de pensar dos sujeitos desse tempo, constituirão o arquivo sobre o qual desejamos trabalhar.

Linguagem


A linguagem não pode espelhar referentes do mundo nem representar objetos mentais, pois não se trata de uma imagem estática, nem pode ser concebida como mero instrumento de comunicação, uma vez que suas propriedades forçam-na a desempenhar papéis em torno da construção de sistemas conceptuais e fornecer subsídios para a compreensão do mundo.

Também não se restringe ao micro-universo da interação. Aí é o lugar onde ela apenas se manifesta. Não podemos nos esquecer de que a linguagem contempla um conjunto de dispositivos com os quais forjamos, na esfera do real, algo que está, que não está, que já esteve, que não esteve, que ainda vai estar ou que jamais estará presente no mundo. Trata-se de uma forma de “evocação”, pois a sua configuração é o resultado e a causa de processamentos cognitivos.

Defendemos, pois, que a manipulação das estruturas linguísticas tem relação com a forma como elas são cognitivamente processadas, assim como com a finalidade para a qual são destinadas.

Abordagem


Julgamos relevante o desenvolvimento de uma teoria etnográfica da atividade mental concomitantemente a uma teoria cognitiva das representações socioculturais. Nossa pressuposição é a de que os modelos socioculturais, relativamente estabilizados pelas práticas discursivas, são uma parte integrante das atividades cognoscitivas e, ao mesmo tempo, são condicionados por tais atividades.

Práticas Discursivas


Pensamos as práticas discursivas como o espaço de negociação intersubjetiva no interior do qual ocorre o trabalho conjunto de construção de sentido. Esse trabalho, realizado a partir de inúmeras e complexas estratégias semiológicas, é responsável pela (re)configuração de modelos de mundo.

Desse modo, as práticas discursivas produzem e manipulam representações simbólicas, implicando, ao mesmo tempo, a necessidade de os sujeitos se inserirem numa determinada moldura (frame) e, dentro dela, exercer um jogo de linguagem particular.

A manipulação das formas simbólicas, por meio das práticas discursivas, resulta na manipulação significativa de nossa própria percepção da realidade. E, uma vez reconhecendo que a condição humana é dependente do trabalho de simbolização, sem o qual sequer poderíamos falar de cultura, entendemos que são as práticas discursivas que tornam significativas nossas experiências.

O que entendemos por "cognição"


Defendemos uma perspectiva social e corporificada da cognição, em oposição ao seu foco tradicionalmente individual, desvinculado das experiências sensório-motoras vivenciadas pelos sujeitos. Os processos cognitivos não devem ser tomados às margens das rotinas significativas da vida em sociedade. Pensar e fazer são atividades intimamente relacionadas, uma vez que nossas múltiplas experiências afetam-nos cognoscitivamente.

O enfoque do grupo


Assumimos uma perspectiva cognitivista da linguagem voltada, particularmente, para

os diferentes processos de construção de sentido (compreendidos como processos de estruturação de sistemas conceptuais), por considerarmos a simbiótica relação entre as estruturas linguístico-cognitivas e o papel que a experiência humana, vivenciada em contextos socioculturais específicos, desempenha nessa relação, e

o estudo da variação (compreendida na confluência da relação linguagem / sociedade / cognição), por considerarmos ser pouco produtivo tratar do uso heterogêneo das línguas sem remeter-nos à diversidade sociocultural, uma vez que a natureza dinâmica da estrutura gramático-conceptual nos conduz, inexoravelmente, à dinâmica do discurso e da interação social.

Alicerçados nessas idéias, pretendemos congregar pesquisadores cujos projetos se organizem a partir dessa temática, assim como propiciar, ao estudante de graduação, a iniciação à pesquisa científica.